domingo, julho 24, 2011

Enquanto a cor da pele for mais importante que o brilho dos olhos, haverá guerras.. "BOB MARLEY"



São 19h40 de uma quarta-feira e o tempo se arrasta no congestionamento da marginal Pinheiros, em São Paulo. No carro, a professora Lia Diskin, 59 anos, seguindo rumo ao bar Zé Batidão para conhecer Sérgio Vaz, 46, escritor e produtor cultural. O tradicional boteco do Jardim São Luís abriga há nove anos o sarau da Cooperifa e foi palco do segundo encontro entre homenageados do Prêmio Trip Transformadores 2010. Um grito de guerra dá início à celebração que reúne 200 pessoas: “É noite de poesia. Temos 60 inscritos pra declamar”, diz Sérgio.

Lia observa tudo com atenção. Acostumada a promover projetos de democratização do conhecimento, ela comenta o projeto de Sérgio: “Aqui as pessoas se aplaudem. Cada um reconhece no outro um mérito e isso é muito bonito, pois são pessoas que nunca se sentiram parte da sociedade”. O produtor explica que seu objetivo é construir algo melhor para si e para outros que moram na periferia da cidade. “Faço isso para que as pessoas não queiram se mudar daqui, mas queiram mudar aqui.”

Quilombo cultural é o apelido do sarau da Cooperifa, nome inspirado na ideia de uma cooperativa da periferia. Como o quilombo, o sarau é um espaço de resistência cultural, onde todos se encontram, de trabalhadores nordestinos a donas de casa, passando por estudantes e intelectuais. “O governo te coloca num lugar desses, onde a saúde e a educação são precárias, onde não há teatro, biblioteca nem cinema. A pessoa pega dois ônibus depois do trabalho e vem aqui ler poesia? Isso é que é a insustentável leveza do ser, de que [Milan] Kundera falou”, diz ele, citando o célebre autor tcheco e sua obra clássica. Ao atrair também um público de classe média, como Lia, Sérgio diz que pretende mudar a imagem de que a vida na periferia se resume à violência.

Foi em casa, na estante do pai, que Sérgio aprendeu a amar os livros. O lar humilde guardava obras da literatura, e o menino que sonhava em ser jogador de futebol não resistiu aos encantos de Machado de Assis. Adulto, dedica a vida para levar arte às comunidades carentes. A Cooperifa inspirou outros 40 saraus. Sérgio também promove o Cinema na Laje, projeto que organiza exibições populares de filmes.

Jornalista argentina radicada no Brasil, Lia é coordenadora do Comitê Paulista para a Década de Paz – programa da ONU para disseminar a cultura de paz. É responsável pelas visitas do Dalai Lama ao Brasil. Ao lado do marido, Basílio, fugiu da ditadura e aqui fundou um centro para crianças órfãs e também a Associação Palas Athena, que, em parceria com a Unesco, desenvolve dezenas de projetos. O mais recente vai oferecer cursos de aprimoramento para professores de uma centena de escolas em São Paulo.

Lia e Sérgio veem como um de seus objetivos a luta contra a desigualdade e a violência. “Não é suficiente viver, é preciso experimentar a vida”, diz Lia, citando o autor Joseph Campbell.



Apesar deste esforço, ainda se vê neste mesmo local onde pratica-se a igualdade, a indiferença e o preconceito.

O rapper e ativisita cultural Preto Will, do grupo Versão Popular e membro da Cooperifa (Cooperativa Cultural da Periferia) foi vítima de uma agressão física no final da tarde no metrô Campo Limpo – SP.

Numa segunda feira do ano de 2008, na mesma região, Alberto Milfont Júnior, um trabalhador de 23 anos, foi com a mulher a uma filial das casas Bahia na periferia da zona sul de São Paulo para comprar um colchão. Enquanto ela estava na fila da caixa, ele esperava, sentado num sofá. Um segurança desconfiou da aparência do rapaz, bateram boca e, apesar da tentativa pacificadora de um gerente, ele matou-o com um tiro no rosto. O rapaz era foi educando na ONG Casa do Zezinho, por mais de 10 anos.



Se um dos 'zezinhos' fosse suspeito da morte de alguém, ficaria preso por muito tempo”, assevera Tia Dag Gestora da Casa do Zezinho(contemplada com o prêmio Transformadores), após saber da soltura do executor.

Um caso entre muitos que acontecem cotidianamente e ficam apagados e passam despercebidos por muitos motivos.

E que atitudes de racismo sejam denunciadas nas ruas, nas redes sociais, em todo e qualquer lugar, pois este mau se fortalece quando nos calamos e cruzamos os braços, fingindo não ser comigo ou com você. Racismo é doença e precisa ser combatido.

Quem sabe um dia ao invés de conviver com tamanha brutalidade, possamos apenas nos envergonhar de termos vivido, em pleno século 21, num país tão desigual quanto ignorante e injusto.

Ativistas culturais de todo país estão mobilizados para exigir retratação diante do caso. Uma mobilização, pelo twitter, já começou, com a disseminação da hashtag #RacismonoMetrôCampoLimpo.


Manifesto contra o racismo sofrido pelo Preto Will

Hoje 20h30 Também,

Bar do Zé batidão
Rua bartolomeu dos Santos, 797 Jd. Guarujá
Periferia - SP

Fontes;


http://www.rapnacional.com.br/2010/index.php/noticias/rapper-preto-wiil-sofre-racismo-na-estacao-do-metro-campo-limpo/
http://g1.globo.com/Noticias/SaoPaulo/0,,MUL863976-5605,00-MISSA+E+PROTESTO+CONTRA+MORTE+EM+LOJA+DAS+CASAS+BAHIA+REUNEM.html
http://www.colecionadordepedras1.blogspot.com/
http://www.casadozezinho.org.br/
http://revistatrip.uol.com.br/transformadores/

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