quarta-feira, agosto 25, 2010

A união da Periferia faz a força...





A acalorada discussão em torno do projeto de desmanche da TV Cultura pegou pela cabeça e pelo coração. O economista João Sayad é um homem público respeitável. Conseguiu botar em ordem as finanças da Prefeitura de São Paulo depois da calamitosa gestão Celso Pitta.

Tudo leva a crer que Sayad não tinha ideia do que a TV Cultura já fez e ainda faz; em reunião interna demonstrou desconhecer até mesmo um diretor da importância do Fernando Faro, embora não haja sinais de que vá interromper o melhor programa musical do País, que além do mais se tornou um arquivo vivo da memória da música brasileira. Fora isso, terá vindo apenas para encolher os gastos da emissora, com a fúria de um exterminador do futuro? Não haverá argumento que o convença da importância de usar dinheiro público para a experimentação, a invenção e a aposta em programas de qualidade, diferenciados da mesmice das emissoras comerciais?

As primeiras notícias falam em venda dos estúdios e dos equipamentos, demissões em massa e redução da TV Cultura a um pequeno e mesquinho balcão de compra de enlatados. Faz tempo que uma decisão política não causava tão grande revolta da sociedade.





Um corajoso programa de auditório dedicado ao hip hop, levado ao ar ao vivo nos sábados à tarde sob o comando de Rap in Hood, que estreou em CD lá por 2000, cantando: "eu tenho o microfone/ é tudo no meu nome". Ter acesso ao microfone e falar em nome próprio: na plateia, meninos e meninas de pele escura, "bombeta e moleton", não se distinguem dos mesmos meninos e meninas que sobem para dar seu recado no palco.

Manos e Minas não precisa de argumentos de segurança pública para se justificar. Dar espaço ao rap na televisão é importante por si só. Mas a decisão de acabar com o programa nos faz refletir sobre o modo como a elite paulista concebe a inclusão simbólica da periferia na produção cultural da cidade: não concebe. Daí que a pobreza, aqui, seja um problema exclusivo de segurança pública.



Quando assumiu a Presidência da Fundação Padre Anchieta, no mês de junho, João Sayad afirmou que a programação seria completamente revisada.

"Esse é o Vila Sésamo", disse à Folha João Sayad, 64, novo presidente da TV Cultura, ao ver foto do "Cocoricó", principal programa da emissora.

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Para quem não sabe, "Vila Sésamo" tem também uma versão produzida pela Cultura.

Diante da confusão, Sayad, que antes de ver a foto não sabia se "Cocoricó" era desenho ou programa de bonecos, admitiu pouco ver a TV Cultura.

"Não fiz a lição de casa. Preciso ver mais." Argumentou que "isso pode ser uma vantagem". "Posso ser mais aberto."

Ex-secretário de Estado da Cultura de São Paulo, Sayad afirmou que irá se concentrar em problemas jurídicos e financeiros da instituição.

Na apresentação de seu plano de gestão, no começo do mês de agosto, Sayad reafirmou que o "Manos e Minas" seria retirado do ar, mesmo sob os protestos de Danilo de Miranda, diretor do Sesc e membro do Conselho Curador da TV.



Após protestos de artistas ligados ao movimento hip-hop e a divulgação de um manifesto em vídeo do rapper Mano Brown, do Racionais MC´s, a TV Cultura anunciou que manterá o programa "Manos e Minas" em sua grade.
De acordo com a assessoria de imprensa da emissora, o programa será mantido, mas será veiculado com nova roupagem. "O 'Manos e Minas' voltará à grade depois de passar por um processo de repaginação, aumentando o interesse em função de novas atrações", afirmou a TV Cultura em nota à imprensa.

O anúncio da manutenção do "Manos e Minas" veio antes do protesto marcado para a começo da noite de terça-feira (24), na Assembleia Legislativa de São Paulo, contra a extinção do programa.

Enfim, alguém teve a ousadia de dar visibilidade à atividade musical dos jovens da periferia de São Paulo, acostumados a só existir na mídia quando algum dentre eles comete um crime. E o mérito vai pros Gerreiros da própria Periferia, que há muto trabalham em pról da justíça para todos..

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