sexta-feira, março 16, 2007


ANOS INCRÍVEIS (Sérgio Vaz)
Dia 15 de março comemora-se o dia do circo, comemora-se não, lembra-se. Pois não há nada a comemorar, a situação dos circos não tem a menor graça. Quando se perde a capacidade de sorrir... Particularmente sempre achei o sorriso mais subversivo que a raiva. Nesta época eu lembro quando o circo chegava na minha quebrada, era uma festa nas ruas. O Circo ficava lá na piraporinha onde hoje é o sacolão, e mais se parecia com uma nave espacial cheio de gente esquisita dentro. Os artistas subiam em cima do caminhão e saíam fazendo propaganda do espetáculo, e a molecada, nós, íamos atrás, tentando pegar algum bilhete para entrar de graça. O palhaço, o leão, macaco, a mulher de barba, vixe, o fascínio era tanto que estes personagens pareciam um caleidoscópio a girar diante dos nossos olhos.
Como assistir sem dinheiro, furar a lona?
Sim, muitos furavam a lona, mas eu não, consegui um emprego de vendedor de chocolate . Assistia a tudo de perto, eu e o meu irmão, nenhuma criança no mundo era mais feliz que a gente, nehuma. O riso tinha gosto de chocolate. O chato é que as vezes o Sidney Magal ia cantar e aquilo virava uma zona, é, antigamente, na periferia, os artistas se apresentavam em circo. Lembra de Jane e Herondi, Marcos Roberto, Odair José ? Pois é, eles também fazem parte da minha infância: "não se vá...". Quando a gente já caminhava nas nuvens, fomos demitidos do emprego e da alegria, não conseguíamos vender um chocolate sequer, é que a gente ficava o tempo inteiro sentado trabalhando com os olhos, para tristeza do patrão e para delírio do coração. Nestes dias a periferia se vestia de magia, e a gente, apesar da dureza da realidade, éramos moleques de muita sorte, era um tempo de ser beliscado pelo mais puro bálsamo da vida: a felicidade.
Eram anos incríveis.

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