quarta-feira, março 12, 2014

Em 2014, o carnaval caiu no mês de março, mesmo período em que celebra-se o Dia Internacional da Mulher.



 Deveria ser um período de dupla comemoração, porém, não é este o papel atribuído às mulheres pelos grandes meios de comunicação e pelas agremiações carnavalescas. 
O carnaval no Brasil (que já foi o principal espaço da população pobre e negra, oprimida, para expressar sua cultura muitas vezes discriminada), a começar pelo Rio de Janeiro, e posteriormente expandido para outros estados, se tornou um mercado bilionário, que envolve empresas de turismo, redes hoteleiras, escolas de samba, canais de televisão, o comércio de bebidas, a prostituição, o tráfico de drogas.
 A Embratur foi criada no ano de 1966, durante a Ditadura Militar, sob o comando do então presidente- ditador Castelo Branco, com o objetivo de promover o turismo no Brasil. Naquele período, o país vivia um momento de intensa luta política, com a imposição de uma ditadura que oprimia a população política e economicamente, mas que também contava com uma forte resistência popular. Era necessária a criação de uma imagem internacional do país que escondesse seus problemas políticos, as torturas e a indignação da população, e que permitisse que fossem atraídos turistas de todo o mundo, principalmente dos Estados Unidos e da Europa, aquecendo um mercado ainda pouco explorado no país. 
 A partir daí, a imagem da mulher negra, sua nudez e sua dança passaram a ser exploradas ostensivamente pelos grandes meios de comunicação. A propaganda utilizada pela Embratur nos anos 70 e 80 enaltecia não só as belezas naturais, mas também a sexualidade da mulher brasileira: nos cartazes de divulgação, panfletos, filmes publicitários e na participação em congressos mundiais sobre turismo, a participação da mulata e negra brasileira era presença certa, sempre vestindo pouca ou nenhuma roupa.
Porém, após quase 50 anos de exploração ostensiva do corpo da mulher brasileira como atrativo turístico, o perfil do turista de diversos países do mundo que vem ao Brasil é o do que procura o chamado “turismo sexual” . 
Em pesquisa recente, a Embratur mostra que 44% dos turistas no país viajam com a família, 34% estão sozinhos, 17% viajam com amigos e 4% em excursão (o chamado “turismo de solteiro” é considerado alto no país). A consequência direta é o aumento da prostituição (inclusive a infantil), da pedofilia e do tráfico de mulheres escravizadas. Com certeza o turismo sexual está nitidamente ligado à prostituição, atraindo turistas que querem ver mulheres, crianças e até mesmo meninos. “Talvez o termo adequado para essa prática não seja ‘turismo sexual’, visto que não há nenhum pacote de agência de viagem brasileira ou estrangeira apresentando Natal como paraíso sexual; adequaria-se melhor aqui o ‘prostiturismo’, termo que mais se aproxima do que realmente ocorre em Natal, pois o que há é uma situação em que a prostituição torna-se uma atividade mais lucrativa quando se tem por clientela os turistas estrangeiros”, reconhece Paulo Lopes, da secretaria de turismo de Natal (RN).
O êxito do turismo no Brasil sempre esteve ligado à sexualidade feminina e ao mito da orla “caliente”. Também no tráfico de mulheres somos campeões. Dados apresentados pela Fundação Helsinque mostram que o Brasil é o maior exportador de mulheres escravas sexuais da América do Sul. O tráfico de mulheres e a prostituição de milhões delas no mundo já alcançaram níveis de exploração só comparáveis aos piores momentos do comércio de escravos do século 16.
A principal fonte de mulheres para todo esse mercado é a pobreza. Mais de 30 milhões de brasileiros que não sabem ler ou escrever e mal conseguem se alimentar podem começar a achar que a prostituição é uma saída honrosa. E também não precisamos ser muito inteligentes para deduzir que a maioria das mulheres acima citadas são negras, já que são mulheres negras a maioria das mulheres pobres do país. Porém, não somente a pobreza contemporânea ajuda a construir esse quadro.
A mulher negra e a ideologia dominante
Mão-de-obra barata e objeto sexual: esse foi o papel dedicado às mulheres negras na sociedade brasileira desde o início da colonização portuguesa e da escravidão africana; esse é o papel que a sociedade capitalista vinda após a independência fez permanecer ao longo dos tempos. Esta exploração tomou novas formas e novos “senhores” passaram a lucrar com isso. Portanto, tudo isso continua na “normalidade” da nossa cultura, não nos surpreende. 
Este carnaval, o concurso da Globeleza, o 8 de Março, devem nos fazer refletir quanto uma mulher negra deve lutar para transformar a nossa sociedade numa sociedade melhor. Nesta sociedade que explora e oprime, e que usa gênero, cor da pele, características físicas, como motivo para explorar e oprimir ainda mais, devemos ser as primeiras a se levantar e lutar. Temos mais motivos que nenhum outro para nos mobilizar e tomar a frente na luta por uma nova sociedade. Assim, ser mulher negra vai deixar de ser um problema e vai passar a ser a solução!
Eloá Nascimento e Jhenifer Raul, Rio de Janeiro

Fontes;
http://averdade.org.br/2014/03/o-carnaval-e-mercantilizacao-da-mulher-negra-brasil/?utm_source=feedburner&utm_medium=email&utm_campaign=Feed%3A+averdadepravda+%28Jornal+A+Verdade%29
http://pt.wikipedia.org/wiki/Minist%C3%A9rio_do_Turismo_(Brasil)


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