quarta-feira, setembro 11, 2013

Senta que lá vem História .


O prédio da Light, cujo nome oficial é prédio Alexandre Mackenzie, é um dos mais esplêndidos edifícios da cidade. Enobrecendo aquela que já foi chamada de "a esquina mais movimentada do Brasil", da Xavier de Toledo com o Viaduto do Chá, também tem uma fachada na rua Formosa. Sua localização privilegiada propicia belas perspectivas visuais, desde o Viaduto do Chá e do Anhangabaú.

O papel da The São Paulo Light & Power na história da industrialização da cidade é cercado de polêmica. Para uns, foi fundamental para o desenvolvimento econômico de São Paulo, fornecendo energia elétrica para um parque industrial que se desenvolvia com velocidade não superada em qualquer parte do mundo. Citam as impressionantes obras de engenharia, as represas Guarapiranga e Billings (nome de um engenheiro da Light), que armazenavam a água do rio Pinheiros, cujo curso foi revertido, passando a correr não para o rio Tietê, mas para o mar, através da gigantesca tubulação que desce a serra do Mar e alimenta a usina Henry Borden (ex-chairman da Brazilian Traction, controladora da Light - atual Brascan).



Outros apontam os efeitos perniciosos do monopólio exercido pela empresa, tida como precursora do "lobby" político no Brasil, os métodos nada éticos com que sufocou  a pouca concorrência antes da consolidação desse monopólio. Citam como exemplo a Companhia Viação Paulista, de bondes puxados a burros, liquidada em janeiro de 1900, logo após a chegada da Light. Ou a disputa com a Companhia Água e Luz, que em 1909 oferecia preços três vezes menores que os cobrados pela Light, caso a lei que garantia a livre concorrência fosse respeitada - o que a Câmara municipal desconsiderou, garantindo à Light o monopólio dos serviços de eletricidade. Por esses e outros motivos companhia era chamada ironicamente de "Sao Paulo Light & Too Much Power" nos cartuns do personagem Juca Pato, a criação memorável de  Belmonte.

A The Sao Paulo Light & Power foi criada em Toronto por carta-patente da rainha Vitória da Inglaterra em 7 de abril de 1.899, e autorizada a funcionar no Brasil no mesmo ano pelo presidente Campos Salles. Foi constituída por um grupo de capitalistas canadenses, liderados pelo americano Frederick Starck Pearson, o verdadeiro mentor da empresa. Pearson havia comprado do italiano Francisco Gualco e de Antonio Augusto de Souza a concessão para implantar o serviço de bondes elétricos e fornecer energia elétrica à cidade - concessão essa que havia sido obtida da 
Câmara Municipal.


Em 1901, é inaugurada a primeira Usina Elétrica da Light - a de Parnaíba. Antes disso, em 7 de maio de 1900, começou a circular o primeiro bonde elétrico da cidade. A partir de então, a Light cresce a reboque da fantástica explosão industrial em São Paulo. Em 1.900, havia 165 indústrias na cidade. Vinte anos depois, passaram para 4.415.

Em 1914 Frederick Pearson morreu no afundamento do navio Lusitânia, e a direção da Light passou para Alexander (Alexandre) Mackenzie. Pearson também havia sido o presidente de diversas empresas coligadas, como a Rio de Janeiro Light & Power, a Mexican Tramway, a Mexican Light & Power, a São Paulo Electric Co (que atendia a região da Sorocabana), a Barcelona Traction, a San Antonio Land & Development, e várias outras.


Em 1943 a Light foi objeto de uma Comissão Parlamentar de Inquérito que apontou uma série de irregularidades e abusos cometidos pela companhia, entre os quais: sabotagem da construção da usina de Salto no rio Parnaíba; manobras no sentido de obter decretos-leis do governo que eximissem a empresa do cumprimento de obrigações legais; influência ou pressão sobre funcionários encarregados do andamento de processos administrativos necessários à execução de obrigações da empresa, entre outros.


No final da década de 1970, o contrato de concessão da Light com o governo federal, assinado no início do século e com validade de 70 anos seria encerrado, com a entrega dos ativos investidos tanto no Rio de Janeiro, como em São Paulo ao governo brasileiro. Porém em circunstâncias obscuras, principalmente no momento político vigente (ditadura militar brasileira), o então ministro das minas e energia Shigeaki Ueki, através da Eletrobrás, adquiriu o controle acionário da Light – Serviços de Eletricidade S/A, estatizando-a.

Já nesta época, a empresa já havia se desinteressado totalmente de investir na manutenção e ampliação do sistema de transportes públicos, e na geração de energia elétrica, concentrando-se na rentável atividade de distribuição. Em 1947 a concessão do serviço de bondes passou para o poder público, através da CMTC. Já no setor elétrico a coisa foi mais complicada. A falta de investimentos da Light levou a uma gravíssima crise energética no início dos anos 50. A sociedade mais e mais foi se voltando contra o monopólio da energia elétrica, ainda mais nas mãos de uma empresa estrangeira. Isso levou à criação de diversas empresas de energia elétrica estaduais (como a CESP em São Paulo) e federais (reunidas na Eletrobrás em 1962).
Setores nacionalistas faziam pressão para que fosse declarada a caducidade da concessão da Light, e que fosse encampada pelo governo. Em 1979 a Light foi comprada pelo Governo Federal pela quantia de 1 bilhão 215 milhões de dólares (valores da época), apesar de faltarem apenas onze anos para o término da concessão. Em 1981 foi transferida para o controle do governo estadual e passou a se chamar Eletropaulo (coincidentemente, o então governador se chamava... Paulo Maluf).

Em 1998, menos de vinte anos após a sua estatização, a empresa foi reprivatizada - por 1,8 bilhão de dólares - menos do que o governo pagou pela empresa em 1979, em valores atualizados. Desse 1,8 bilhão, 1 bilhão e 200 milhões foram emprestados pelo BNDES. As últimas notícias dão conta que a controladora da Eletropaulo, a empresa americana AES atravessa grave crise, e recebeu novos empréstimos vultosos do BNDES.
Toda essa digressão foi feita para falar da empresa que construiu o prédio que ora abordamos. A primeira sede da Light, quando chegou ao Brasil, foi um sobrado na rua Direita, com loja de materiais elétricos no térreo. Em 1908 transferiu-se para o prédio Martinico Prado, na praça Antonio Prado - edifício que, muito modificado, é hoje ocupado pela Bolsa Mercantil e de Futuros.
Enfim, a empresa decidiu construir uma sede própria e para tanto comprou em 1923 o Teatro São José, no Viaduto do Chá, projetado pelo arquiteto Carlos Ekman e de propriedade da família Prado.

Teatro São José Demolido em 1924

A Light encomendou o projeto ao escritório de arquitetura Preston & Curtis, que concebeu um prédio no estilo "French Renaissance". O responsável pelo projeto foi William Proctor Preston (1877-1954), graduado na Universidade da Pensilvânia na Filadélfia em 1900.


As obras tiveram início em 1925, a cargo do Escritório Técnico Ramos de Azevedo, e se estenderam por quatro anos. Em 3 de maio de 1929, o prédio era inaugurado, batizado de "Alexandre Mackenzie", em homenagem ao advogado canadense Sir Alexander Mackenzie (1860-1943), segundo presidente da Brazilian Traction, o truste controlador da Light. Mackenzie, havia deixado a presidência da companhia e o Brasil no ano anterior, em 1928, para passar a velhice em sua luxuosavilla de Florença.

Com a expansão da empresa, tornou-se necessária a ampliação do edifício sede, e para tanto foi encomendado um projeto ao Escritório Severo & Villares (sucessor do Escritório Ramos de Azevedo. O plano previa quatro estágios de ampliação do edifício: o primeiro, o setor já existente; o segundo estágio, ampliação do edifício na rua Formosa; o terceiro, ampliação na rua Xavier de Toledo; o quarto e último previa o acréscimo de uma torre de 20 andares ao edifício.

Monumento erguido em frente a Pinacoteca do Estado
em homenagem ao Arquiteto Ramos de Azevedo, posteriormente transferido para USP.





Do plano de ampliação só foi executado o segundo estágio, entre 1939 e 1941, expandindo a fachada da Rua Formosa, e conferindo ao prédio sua feição atual. As obras foram tão bem feitas, utilizando-se os mesmos materiais de revestimento, que nem se percebe onde acaba o prédio original e começa a ampliação.
Todo o trabalho em serralheria e marcenaria foi executado pelo Liceu de Artes e Ofícios, indefectível fornecedor de elementos decorativos e construtivos para o Escritório Ramos de Azevedo. As clarabóias coloridas são de autoria do vitralista Conrado Sorgenicht Filho, da grande família de vitralistas e que também criou os vitrais do Mercado Municipal.

Externamente, o estilo do prédio lembra o do Pacific Mutual Building, em Los Angeles, e a loja de departamentos Selfridge's de Londres: o corpo do edifício é caracterizado por uma série de pilastras colossais em estilo coríntio.

No início dos anos 90, antes da privatização da empresa, o prédio Alexandre Mackenzie foi vendido para um grupo de investidores que o transformaram em um shopping center, preservando integralmente as características originais do edifício. O Shopping Light foi inaugurado em 1999, após passar por uma cuidadosa reforma e restauração, que demandou investimentos de 45 milhões de reais e durou cinco anos. Restaurado, o prédio recuperou todo o brilho do passado, inclusive os toldos das janelas, característica dos prédios no início do século XX.




Atualmente, o shopping conta com três lojas-âncora, 160 lojas satélite, estacionamento com manobrista e 200 vagas, que ocupam um terreno de 4.518 m² e 36.518 m² de área construída. E  a população de São Paulo pode apreciar o prédio em toda a sua beleza e ricos detalhes.

Fontes;


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