quinta-feira, março 18, 2010

Copa do mundo..Povo marcado, povo feliz..



Deparei-me com um caso aparentemente inusitado: a política é sagaz e articula toda a periferia paulistana. Há de se convir que o político profissional, articula suas bases em redutos de comunidades carentes, usufruindo desta para obter privilégios nas urnas em momento oportuno. Ofertam a barganha pelo sufrágio futuro num voto de cabresto, a cobertura de uma sede esportiva com telhas Brasilit das mais finas que, aliás, proibidas por causa do amianto.

Ainda se vangloriam de ter financiado o feito e para isso promovem um festival domingueiro regado a muita "birita", cerveja e churrasco financiado pela comunidade que sai mais caro a "festa" que o preço das telhas de cobertura da sede esportiva, e mesmo assim o político beneficia-se deste momento quando todos o aclamam como o político que luta pelas causas da região. Não há como explicar esta relação entre o ordinário político e a comunidade que financia a festa para recebê-lo.

Há tempos em uma eleição, um destes políticos aclamado prometeu asfaltar uma ribanceira de uma comunidade simples repleta de barracos que a população chamava de "Rua da Favela", oficiosa, mas com um letreiro pintado a mão para orientação do carteiro, entrega de bujão de gás, Eletropaulo, SABESP, entregador de pizza e outros afins. Articularam-se os correligionários, parasitas partidários do mesmo "nipe" do político, que vivem a mercê da população enganando-a, dizendo ser "seu político” diferente e que iria cumprir o prometido.

No dia do asfaltamento faixas em alusão foram colocadas na "orla da comunidade" e em todo bairro em agradecimento ao dito cujo. Apareceram caminhões carregados de ralos pedriscos acompanhados de uma comitiva tão ordinária quanto o mandante do feito em carreata que anunciava a obra alardeando em "buzinaço". A fumaça do churrasco subia solta no boteco, com um burburinho de uma resenha incompreensível descontrolada, com direito a abraços no político "salvador da pátria".

Os caminhões subiam e desciam a "Rua da Favela" que a óptica acusava ser o trabalho na realidade um "porcalho", mistura de coisa porca com trabalho, e que o legislador legislava em causa própria. Abraçava um e outro, beijava as crianças, cumprimentava o churrasqueiro, seus dez filhos e a genitora da prole. O riso saía forçado, mostrando os dentes branquinhos, enquanto a maioria ao seu redor eram pessoas banguelas. O asfalto foi terminado, com direito a discurso e salvas de rojões.



Logo abaixo do morro da "Rua da Favela" o governo que "gosta muito do povo", foi recebido por uma comitiva do centro desportivo municipal, presidente, vice-presidente, diretores, ao som da "Escola de Samba do Beco Sem Saída" acompanhada por uma multidão em êxtase descontrolado. O padre foi convidado para celebrar a missa em agradecimento ao parlamentar, foi feito um altar, que por sua vez serviu de palanque.

O vigário celebrante faz os ritos, mas o pescoço empinado do vereador acena para a assembléia, sendo ovacionado, porque intercedeu pela comunidade carente que jogava futebol no "terrão", e graças ao seu esforço, agora possui grama sintética. Diga-se que mesmo importada da China e superfaturada, é um beneficio para todos, muito mais para o político que no seu aceno obsceno no altar, digo palanque de comício, promete antes de a missa findar, investir em campeonatos regionais com a maioria dos times de várzea da redondeza e ao campeão será ofertado um veículo quase zero, ao vice-campeão um montante em dinheiro que ele vai dar do próprio bolso!!!

Tanto o asfalto quanto o campeonato foram concretizados e o político ganhou as eleições, ovacionado por toda a comunidade. Mas, como a missa em honra a Deus Supremo não teve valor eucarístico, o Criador depois das eleições inundou São Paulo; quando as águas baixaram, o asfalto casca de ovo de pedriscos misturado com piche foi lavado pela inundação do córrego que destruiu parte das casas da comunidade que voltou a andar no barro na "Rua da Favela". Quanto ao campeonato financiado por "dinheiro público privado", reuniu as maiores equipes locais, em verdadeiras batalhas esportivas, muita festa regada à cachaça e chope financiado pelos torcedores que pagaram pelo superfaturamento.

O campeão recebeu os lauréis da vitória, um enorme troféu montado com peças plásticas tão leve que o mascote de cinco anos do time levantou o troféu para a foto da posteridade. O prêmio, um carro na cor vermelha Ferrari, bem bonito, só possuía um pequeno problema: o motor estava fundido, mas o que importava era a festa! Político que "luta pelo povo" tem que ir às bases para beneficiar-se do sufrágio em época de eleições, mesmo que não legisle por melhorias comuns, tem que requerer garantias de melhores jetons e aprovação de seu próprio reajuste salarial no fechar das luzes do ano velho. Se houver semelhança, é mera coincidência!...

Carlos Fatorelli é Historiador
http://carlosfatorelli27013.blogspot.com/
E-mail do autor: cafatorelli@gmail.com
Fonte
http://www.saopaulominhacidade.com.br/list.asp?ID=4019

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