seringueiras nativas do Brasil no jardim botânico da Inglaterra
A saga da borracha, costuma ser contada como a de uma dádiva natural interrompida por um furto. A descoberta do látex fez com que milhares de nordestinos navegassem pelos rios Purus e Juruá em direção ao Acre, inspirou revoluções burlescas e permitiu que alguns desbravadores se transformassem em “coronéis de barranco”, com direito aos seus latifúndios à beira-rio e ao desfrute de cortesãs francesas nos cabarés de Manaus.
Tudo caminhou bem até o dia em que um grupo de ingleses decidiu transportar na mala sementes da Hevea brasiliensis para o Royal Britanic Gardens jardim botânico real de Kew em Londres, 70 mil sementes de seringueira. A partir desta data, a Inglaterra inicia-se um grande programa de cultivo da seringueira nas colônias britânicas no sudeste asiático, e em algumas décadas a Malásia torna-se o principal exportador de látex, arruinando a economia da Amazônia . Tempos depois, o ciclo extrativista da borracha chegaria ao fim no Brasil, dando lugar aos modernos seringais de cultivo na Ásia. Em 1910, quando a decadência já era clara, o comerciante Raphael Benoliel, que presidia uma associação local de empresários, definiu essa louca aventura na selva como a história do “monopólio que Deus nos deu e o homem nos tirou”. Era o primeiro caso, na Amazônia, do que se convencionou chamar de biopirataria.
Com base em documentos oficiais, Warren Dean americano documentarista, provou que Wickham obteve autorização oficial para a remessa das sementes para a Inglaterra, devidamente declaradas na alfândega e ao abrigo das normas legais em vigor, não só com o aceite, mas até mesmo com o estímulo das autoridades. Se quisesse, o Brasil podia até ter participado das experiências que, iniciadas no Kew Garden de Londres, se estenderiam ao Ceilão e à Malásia.
Deitados eternamente em berço esplêndido, conforme referenda o hino nacional, talvez julgássemos, que um monopólio conferido pela natureza, tornando a seringueira endêmica apenas na Amazônia, não poderia ser quebrado pelo homem.
Não conquistaremos a autodeterminação da Amazônia com barreiras, retórica ou satélites, mas com o melhor conhecimento sobre ela. Acorda Brasil....
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