quarta-feira, março 18, 2015

Tem gente dizendo que nunca houve um ato de descontentamento, como o do dia 18/03 no Brasil.

Na madrugada do dia 31 de março de 1964, um golpe militar foi deflagrado contra o governo legalmente constituído de João Goulart. oão Goulart, em busca de segurança, viajou no dia 1o de abril do Rio, para Brasília, e em seguida para Porto Alegre, posteriormente seguiu para o exílio no Uruguai, de onde só retornaria ao Brasil para ser sepultado, em 1976. 



Antes mesmo de Jango deixar o país, o presidente do Senado, Auro de Moura Andrade, já havia declarado vaga a presidência da República. O presidente da Câmara dos Deputados, Ranieri Mazzilli, assumiu interinamente a presidência, conforme previsto na Constituição de 1946, e como já ocorrera em 1961, após a renúncia de Jânio Quadros. O poder real, no entanto, encontrava-se em mãos militares. No dia 2 de abril, foi organizado o autodenominado "Comando Supremo da Revolução", composto por três membros: o brigadeiro Francisco de Assis Correia de Melo (Aeronáutica), o vice-almirante Augusto Rademaker (Marinha) e o general Artur da Costa e Silva, representante do Exército e homem-forte do triunvirato. Essa junta permaneceria no poder por duas semanas.


Nos primeiros dias após o golpe, uma violenta repressão atingiu os setores politicamente mais mobilizados à esquerda no espectro político, como por exemplo o CGT, a União Nacional dos Estudantes (UNE), as Ligas Camponesas e grupos católicos como a Juventude Universitária Católica (JUC) e a Ação Popular (AP). Milhares de pessoas foram presas de modo irregular, e a ocorrência de casos de tortura foi comum, especialmente no Nordeste. O líder  Gregório Bezerra, por exemplo, foi amarrado e arrastado pelas ruas de Recife. 




Em 26 de março de 1968, após uma série de retaliações aos movimentos pró-restituição da democracia.   Inicialmente a marcha começou com 50 mil pessoas e logo alcançou 100 mil. Entre os manifestantes estavam estudantes indignados pelas retaliações, artistas, escritores e intelectuais que já previam um tenso período de censuras e ainda, muitas mães que temiam pelo grande números de apreensões à jovens estudantes.


A manifestação foi um dos mais importantes atos em favor da democracia desde a história republicana do país. Na época, os militares reuniram algumas lideranças civis alegando querer ouvir suas vozes, mas infelizmente não acataram nenhuma das solicitações. Durante o restante do ano de 1968 muitos outros atos de repressão foram executados contra estudantes e outras pessoas que discordassem das ações o que culminou, em dezembro desse ano, na implantação do AI-5 – Ato Institucional de número 5 – que que acabou legalizando a repressão.




Entretanto, o golpe militar foi saudado por importantes setores da sociedade brasileira. Grande parte do empresariado, da imprensa, dos proprietários rurais, da Igreja católica, vários governadores de estados importantes (como Carlos Lacerda, da Guanabara, Magalhães Pinto, de Minas Gerais, e Ademar de Barros, de São Paulo) e amplos setores de classe média pediram e estimularam a intervenção militar, como forma de pôr fim à ameaça de esquerdização do governo e de controlar a crise econômica. 




O golpe também foi recebido com alívio pelo governo norte-americano, satisfeito de ver que o Brasil não seguia o mesmo caminho de Cuba, onde a guerrilha liderada por Fidel Castro havia conseguido tomar o poder. Os Estados Unidos acompanharam de perto a conspiração e o desenrolar dos acontecimentos, principalmente através de seu embaixador no Brasil, Lincoln Gordon, e do adido militar, Vernon Walters, e haviam decidido, através da secreta "Operação Brother Sam", dar apoio logístico aos militares golpistas, caso estes enfrentassem uma longa resistência por parte de forças leais a Jango. 



Os militares envolvidos no golpe de 1964 justificaram sua ação afirmando que o objetivo era restaurar a disciplina e a hierarquia nas Forças Armadas e deter a "ameaça comunista" que, segundo eles, pairava sobre o Brasil. Uma idéia fundamental para os golpistas era que a principal ameaça à ordem capitalista e à segurança do país não viria de fora, através de uma guerra tradicional contra exércitos estrangeiros; ela viria de dentro do próprio país, através de brasileiros que atuariam como "inimigos internos" – para usar uma expressão da época. Esses "inimigos internos" procurariam implantar o comunismo no país pela via revolucionária, através da "subversão" da ordem existente – daí serem chamados pelos militares de "subversivos". 

Os militares que assumiram o poder em 1964 acreditavam que o regime democrático que vigorara no Brasil desde o fim da Segunda Guerra Mundial havia se mostrado incapaz de deter a "ameaça comunista". Com o golpe, deu-se início à implantação de um regime político marcado pelo "autoritarismo", isto é, um regime político que privilegiava a autoridade do Estado em relação às liberdades individuais, e o Poder Executivo em detrimento dos poderes Legislativo e Judiciário. 


Articulações bem-sucedidas na área militar de um grupo de oficiais pró-Castelo e o apoio dos principais líderes políticos civis favoráveis ao golpe foram decisivos para que, no dia 15 de abril de 1964, Castelo Branco assumisse a presidência da República, eleito, dias antes, por um Congresso já bastante expurgado. O novo presidente assumiu o poder prometendo a retomada do crescimento econômico e o retorno do país à "normalidade democrática". Isto, no entanto, só ocorreria 21 anos mais tarde. É por isso que 1964 representa um marco e uma novidade na história política do Brasil: diferentemente do que ocorreu em outras ocasiões, desta vez militares não apenas deram um golpe de Estado, como permaneceram no poder.
Há uma circunstância peculiar em torno do golpe militar de 1964. Ao mesmo tempo em que faz parte da história muito próxima dos acontecimentos, pode parecer algo distante para gerações que não foram testemunhas dos fatos e conviveram com interpretações marcadas pelo peso ideológico. Ao se aproximar das cinco décadas do 31 de março de 1964, o interesse pelo tema tem, exatamente por isso, um novo sentido. Já há distanciamento e volume de estudos suficientes para tratar do golpe militar com profundidade e, ainda, suas marcas estão presentes na sociedade, na economia e na política brasileira. Tão longe, tão perto.
De lá pra cá, parece que a coisa não mudou muito .

Fontes;

http://cpdoc.fgv.br/producao/dossies/FatosImagens/Golpe1964
https://joaquimlivraria.wordpress.com/2012/04/13/a-passeata-dos-100-mil/
http://www.institutojoaogoulart.org.br/conteudo.php?id=38


Nenhum comentário: